sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Não passam de vermes nojentos

Fazendo uma auto-crítica, penso que a linguagem utilizada na minha primeira estória é um pouco (para não dizer muito) cerrada. Mas, quando após um longo período de inactividade as recordações chegam em catadupa, não se pensa duas vezes. E, por pensar duas vezes, estou agora a recordar-me de uma estória, triste, pos sinal.
O meu falecido pai era funcionário da administração local (Câmara Municipal) quando um dia foi nomeado voluntário pelo chefe da secretaria para organizar um arquivo (não tinha curso para essa função, não auferia portanto o vencimento correspondente ao cargo mas naquela época quem dissesse não...), pois não havia nenhum. Uma arrecadação cheirando a môfo, prateleiras da Handy e documentação por elas acima até acabar o espaço disponível.
_Chefe, já não tenho prateleiras para pôr os calhamaços!
_Não há verba para estantes, amontoe por ordem!
Parece haver nestas frases algo de semelhante com o presente.
Os anos foram passando, a poeira da papelada velha provocou-lhe uma alergia crónica que se manifestava várias vezes por mês, o coração começou a falhar e o sistema nervoso a descontrolar-se de tanta "sordidez" que presenciava. Três relatórios médicos confirmavam a sua incapacidade para aquele serviço. Como se recusou a ser "informador" de quem mandava, como já tinha acontecido durante a ditadura, quem mandava, "cozinhou-lhe" a junta médica (actualmente continuamos na mesma) que o julgou apto para a função. Três dias após receber o comunicado, entrou em coma vindo a falecer alguns dias depois: Apto para o serviço! Como numa festa em St.ª Bárbara de Nexe, quem mandava, ficou espantado ao ver a jóia de família que o funcionário estava usando, furibundo ficou quando um amigo lhe disse que o funcionário não precisava de roubar para ser rico. para acompanharem o colega falecido, quem mandava não permitiu que os subordinados, nessa tarde, saíssem um pouco antes da hora. O saudoso sacerdote que presidia à cerimónia decidiu então adiá-la um pouco.
É triste ter à frente do destino do nosso concelho gente desta estirpe.
Pensam que a história não os julga? Também me "tramou" a mim! Pensa que esquecemos? Não somos "políticos", má q'jêtos?

1 comentário:

  1. Sou desse tempo e tudo o que diz é verdade.E a pena que tenho é que esse presidente da altura ainda continue por aí.Já mudou de partido umas quantas vezes. A seguir aos factos que relata ficou muito católico (seria dos remorsos e da consciência pesada?)e foi para o CDS ,agora PP. Parece que agora é PSD novamente, mas já andou pelo PS e nos tempos do 25 de Abril era mais de esquerda ainda.Mas quem estava na Câmara de Faro nessa altura só se lembra dele como "A Besta" e o seu pai será sempre recordado como um Homem de Bem.

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